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Imagina produzir de uma única matéria-prima, os materiais mais diversos, que vão do plástico, passando por roupas e chegando aos medicamentos? Além disso, tudo que é produzido, é biodegradável.
Estamos falando do Cânhamo, uma espécie de Cannabis, mais fibrosa, sem efeitos psicotrópicos, devido ao baixo nível de Tetrahidrocanabinol (THC), porém rica em Canabidiol (CBD).
A fibra dessa planta é hoje utilizada na produção de mais de 25 mil produtos industrializados. O vegetal pode ser utilizado 100%.
A fibra retirada do caule é utilizada na confecção de roupas, isso porque pode replicar tecidos do nylon ao algodão. Com essa fibra, também são produzidos papeis, plásticos, cordas, adubo e até concreto.
Das flores é possível obter extratos para cosméticos e óleos medicinais. As sementes são aproveitadas para a indústria alimentícia e de ração animal.
Outras características importantes do Cânhamo são a capacidade de ajudar na regeneração do solo, o rápido crescimento da planta e o fato de todos os produtos oriundos dele serem biodegradáveis.
Em relação a preservação ambiental, o Cânhamo também apresenta vantagens, plantações podem capturar, em média, cerca de 6 toneladas de CO2 anuais por hectare.
Tamanho potencial comercial já gerou interesse em pesquisadores brasileiros e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) entrou com pedido junto à Anvisa para ter permissão de realizar pesquisas com a planta que é proibida no país.
Isso porque o Cânhamo, por ser uma cepa da Cannabis Sativa, entra no rol das plantas, listadas da portaria 344 da Anvisa, “que podem originar substâncias entorpecentes”.
De acordo com uma reportagem do Jornal Nacional, a Anvisa afirmou por nota, que entre os temas previstos na agenda regulatória para os anos de 2024/ 2025, não se encontra a regulamentação do Cânhamo.
No mundo, mais de 40 países já cultivam o Cânhamo industrial, a China é o maior produtor da planta no mundo, seguida de países da União Europeia, Estados Unidos e Canadá.
Na América do Sul, o Paraguai é o maior produtor de Cânhamo, com cerca de 5 mil hectares de lavouras. Outros países como Chile, Colômbia, Equador e Uruguai também regulamentaram a produção e comercialização do Cânhamo industrial.
Com o intuito de instigar o debate sobre o cultivo dessa planta, que nada tem a ver com a ‘maconha’ utilizada para fins recreativos, que o uso é proibido no Brasil, é que o Instituto InformaCann levou para a Câmara Legislativa do Distrito Federal a exposição: “Cânhamo: uma revolução agrícola não psicoativa”.
Na exposição, a sociedade poderá ver de perto amostras de produtos feitos com o Cânhamo, como medicamentos, roupas, cosméticos, itens nutricionais, tijolos e papel.
Para a fundadora do Instituto InformaCann, Manuela Borges, a terceira maior nação agrícola do mundo, o Brasil, não pode ficar refém da importação de um extrato vegetal, gerando riqueza e renda para outros países.
“Ao mesmo tempo que a importação restringe e elitiza o acesso ao direito amplo e universal à saúde, o Brasil perde a oportunidade de gerar riqueza e renda para o país. Até quando vamos mandar dinheiro para fora do país?”.
A iniciativa é do Instituto InformaCann e conta com o apoio do deputado distrital, Max Maciel (Psol).
O parlamentar destaca que o objetivo da exposição é principalmente revelar o potencial do Cânhamo, como matéria de produção de produtos que vão desde fitoterápicos e suplementos alimentares até aplicações na construção civil.
“A exposição está dentro da Câmara Legislativa, local onde devem ser promovidos debates. Entretanto, o Poder Legislativo Distrital não tem poder de debater de forma ampla e irrestrita, mas pode avançar. Poderíamos, junto com o Governo do DF, fazer uma parceria com a Universidade de Brasília (UnB), pegar um terreno, cultivar e a partir dali com uso de cooperativas associativas produzir uma série de produtos para a rede da economia criativa, por exemplo”.
O distrital ressalta a importância do debate sobre a legalização do cultivo do Cânhamo, tendo em vista todo seu potencial econômico, e o fato dessa cepa da Cannabis conter quantidade insignificante de THC, e por não possuir efeito psicoativo, não pode ser usada na produção de entorpecentes.
“Nosso foco é desmistificar o Cânhamo, mostrando que suas aplicações vão muito além do que se imagina, e defender a descriminalização para evitar o encarceramento por pequenas quantidades”.
Manuela já levou a exposição, e o convite a reflexão sobre o tema, para a Câmara dos Deputados, local em que o assunto deveria ser estudado e debatido de forma abrangente, tendo como foco o valor econômico da planta para o mercado nacional.
“Essa exposição já existe há quatro anos. Já ocorreu na Câmara dos Deputados em novembro do ano passado, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo”. Manuela quer levar a exposição para o Senado Federal.
O Instituto InformaCann surgiu há quatro anos, quando por motivos de saúde a jornalista começou a fazer uso de Canabidiol. Desde então, devido aos bons resultados obtidos com a medicação, ela resolveu se especializar.
“Comecei a estudar, fiz uma pós-graduação, e decidi montar o InformaCann para ser uma rede de apoio para os demais pacientes. Trazer informação e conhecimento”.
Manuela tem um quadro, “Cannabis no Congresso”, em que entrevista parlamentares sobre o tema, e faz questão de ir vestida com roupas confeccionadas com fibras do Cânhamo.
“Comprei roupas de Cânhamo. E depois do fim da entrevista, eu falo que a roupa é da fibra da planta. E mostro que é sobre isso, regulação, emprego. Mais de 300 mil empregos podem ser gerados só com o cultivo do Cânhamo para fins industriais”.
No Poder Judiciário Federal, o tema tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ), com o Recurso Especial 2024.250, sob o rito do Incidente de Assunção de Competência (IAC), para que seja definida a possibilidade da concessão de autorização sanitária no Brasil para importação e cultivo do Cânhamo industrial.
A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) recebe a exposição Cânhamo: uma revolução agrícola não psicoativa, até o dia 23 de agosto, no hall da entrada principal da Casa.
Francine Marquez