BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS)
O último debate do Partido Republicano antes do início oficial das primárias nos Estados Unidos poupou em larga medida o protagonista da legenda, Donald Trump, líder nas pesquisas e ausente no evento nesta quarta-feira (10), em Iowa. Participaram apenas os pré-candidatos Ron DeSantis, governador da Flórida, e Nikki Haley ex-governadora da Carolina do Sul.
O evento destoou de outros momentos na campanha, caso do segundo debate da legenda, em setembro, que foi marcado por ataques mais incisivos contra o ex-presidente ante a consolidação do empresário à frente na corrida. Até aquele momento, parte importante dos republicanos, incluindo DeSantis, vinha evitando tecer críticas diretas ao empresário, como ocorreu nesta quarta.
Em mais de um momento, tanto Haley como DeSantis expressaram concordância com políticas tomadas por Trump. A ex-governadora da Carolina do Sul disse discordar da forma de governar do líder nas pesquisas, mas que ele foi “o presidente certo na hora certa”; o governador da Flórida disse “apreciar o que Trump fez”, apesar de afirmar que ele prometeu um muro na fronteira com o México e não o construiu.
Na reta final do debate, no entanto, os candidatos precisaram responder a uma pergunta quanto a diferenças entre eles e Trump sobre a visão que tinham da Constituição do país.
Haley afirmou que o dia 6 de janeiro de 2021, referência à invasão do Congresso americano por apoiadores insuflados pelo ex-presidente, foi um dia horrível DeSantis se referiu a Trump como alguém que “vomitava” falas nas redes sociais -mas logo disse que quem teria violado a Constituição seriam autoridades que obrigaram pessoas a ficarem em lockdown durante a pandemia da Covid-19.
Perguntados se concordam com o argumento da defesa de Trump nos casos de que ele é acusado, que afirma que presidentes deveriam ter imunidade para crimes a não ser que sofressem impeachment, Hayley discordou plenamente, e DeSantis ressaltou que, em caso de condenação federal, a indicação do empresário para corrida presidencial poderia se tornar um problema.
Ao longo do programa, porém, os dois tentaram se posicionar, acima de tudo, como os únicos competidores capazes de disputar as primárias com o ex-presidente, interferindo nas falas e acusando um ao outro de mentir.
Haley afirmou em mais de uma resposta que Trump deveria estar no debate para discutir o assunto em questão e divulgou diversas vezes um site em que ressalta o que chamou de mentiras de DeSantis.
O governador da Flórida tentou equiparar a candidata a ações de democratas e vinculá-la aos interesses de doadores de campanha. Ele também disse que Trump deveria estar no debate e, em um dos poucos momentos de crítica direta ao ex-presidente, afirmou que ele precisa explicar o aumento da dívida do país durante seu governo.
Haley guardou para as considerações finais uma oposição mais clara em relação ao empresário ao dizer que o país “não precisa de mais 4 anos de caos”, em referência a um segundo mandato de Trump. Já DeSantis, afirmou no fim que Trump concorre “pelas questões dele”.
Se concordaram em pontos caros ao eleitorado republicano, como o endurecimento das leis de imigração irregular e o combate à China no cenário global, os candidatos tentaram marcar discordâncias na forma como lidariam com todos os temas levantados pelos mediadores.
Para participar do debate promovido pela emissora CNN, era necessário obter mais de 10% das intenções de voto nas pesquisas no estado, que abriga a cidade em que ocorreu o evento, Des Moines, e no qual ambos os partidos Republicano e Democrata dão início às suas corrida eleitorais internas na segunda-feira (15).
A porcentagem mínima é o motivo pelo qual outros pré-candidatos na disputa, como o empresário Vivek Ramaswamy e o ex-governador do Arkansas Asa Hutchinson, não terem se juntado à discussão.
Donald Trump, ao contrário, havia se qualificado para participar. Escolheu não fazê-lo, a exemplo do que fez em todos os outros eventos do tipo durante a campanha -incluindo o primeiro debate republicano, em agosto-, e em vez disso apareceu em um evento paralelo no estado transmitido pela rede conservadora Fox News.
Poucas horas antes do evento, o ex-governador de Nova Jersey Chris Christie, um dos mais vocais rivais republicanos de Trump na campanha até o momento, abandonou sua pré-candidatura.
Christie fez o anúncio em evento na Prefeitura de Windham, em New Hampshire, segundo estado a realizar primárias no país, e gerou desconforto entre os oponentes do ex-presidente ao criticá-los em comentários captados por um microfone aberto antes de sua fala. “Ela não está à altura disso”, afirmou sobre Haley; “DeSantis me ligou, [estava] aterrorizado”, disse sobre o governador da Flórida.
Também em seu discurso oficial o ex-governador não endossou nenhum dos demais pré-candidatos, confirmando as expectativas surgidas após suas falas nos bastidores de que não contribuiria diretamente para solidificar Haley ou DeSantis na disputa contra Trump, líder com folga nas pesquisas.
O ex-presidente, por sua vez, aproveitou para tentar capitalizar em cima do episódio, afirmando na Truth, sua rede social, que as declarações do então oponente “muito verdadeiras”.
No debate anterior ao desta quarta, Haley, que havia acabado de despontar como nova aposta contra Trump, aparecendo à frente de DeSantis nas pesquisas, foi o alvo preferencial dos rivais de partido. Ela, no entanto, não foi capaz de aproveitar os ataques para solidificar sua posição e teve desempenho fraco.
Já o terceiro evento enfocou sobretudo a política externa americana, especialmente o conflito entre Hamas e Israel, aliado dos EUA que tem recebido ajuda financeira e militar de Washington. O atual presidente, o democrata Joe Biden, foi avaliado como “fraco” dos pré-candidatos republicanos na ocasião.
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